sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Rock in Rio: Muito além de apenas um negócio

Por Erich Vallim Vicente


Às vésperas do show de Ivete Sangalo no Rock in Rio – ela toca sexta-feira, 30, no Palco Mundo –, a polêmica sobre as atrações do festival retorna com mais força. As mesmas críticas já desferidas para Cláudia Leite, Katty Perry, Rihanna etc, de que por se tratar de um evento de “rock” – o qual, pelo menos, leva a palavra no nome – elas não deveriam estar lá, abrindo espaço para bandas que, de fato, tocam o estilo. A crítica é, sem dúvida, uma reivindicação justa, já que todos estes artistas têm espaço em eventos de seus respectivos estilos.


Porém, o Rock in Rio é, antes de tudo, um negócio, aliás, um grande negócio, baseado em seus artistas. Usa, é verdade, ecos de uma história, supostamente gloriosa, para fazer valer seu status de principal festival de rock (?) da América Latina. Então, como uma coisa (negócio) depende de outra (ecos de sua história), acontece essas escabrosidades de, no mesmo dia do show de Cláudia Leite, haver uma homenagem a Freddie Mercury, vocalista do Queen, uma das maiores bandas da Inglaterra e do mundo, e presença no Rock’n Rio, em 1985.


Andreas Kisser, do Sepultura, foi uma das bandas que se apresentou nesta edição do Rock in Rio. Foto: divulgação.


Mas aí, alguém pergunta qual o problema de artistas de axé, pop etc se apresentarem num festival só porque ele leva “rock” em seu nome? De fato, nu e cru, parece não haver nenhum problema. Se o rock não estivesse tão atrelado à formação de gerações inteiras, se não tivesse sido uma música que, a cada época, se reinventasse, seja para pedir paz e o fim de guerras, com os hippies dos anos 1970; criar “universos paralelos", como faz o heavy metal do Iron Maiden, ou, ainda, para tecer uma crítica social mais direta, como o punk.


Pode parecer pouco, mas não é. Nesta terça-feira, 27, punks do Brasil inteiro tiveram uma perda irreparável. Aos 49 anos, faleceu Redson Pozzi, fundador da banda Cólera, uma das mais importantes do cenário brasileiro e, quem sabe, da América Latina. Uma pessoa, inclusive, com forte ligação com Piracicaba e região, não só por ter tocado aqui por diversas vezes ao longo de três décadas, mas por ter mantido amizade com muitos piracicabanos. Diferente da maioria dos artistas, do rock ou não, Redson negou o sucesso a qualquer custo e se absteve de transformar sua banda apenas numa marca “de ecos de um passado supostamente glorioso”, como acontece aos montes no cenário musical do País.


Redson, do Cólera, que era um dos principais expoentes da cena punk brasileira. Foto: divulgação.


É irônico que Redson tenha morrido na semana do Rock in Rio, do qual uma das próximas atrações será a cantora de axé Ivete Sangalo. Ele era alguém que tinha a música e suas letras como uma extensão da sua própria conduta como ser humano, e era de toda a importância haver legitimidade entre o que cantava e fazia. Talvez Redson não vá receber homenagens pomposas do Rock in Rio, mas mereceria, por se tratar de alguém tão sincero com aquilo que acreditava, valor tão carente nos dias atuais, não só da indústria fonográfica, mas na sociedade em geral.


Então, quando alguém criticar axé num festival de rock, não se assuste; para muitos, é como subverter algo que vai muito além do que apenas negócio.



Redson deixou a mensagem: Deixe a terra em paz!

Um comentário:

  1. MUITO bom o blog, meninos... PARABÉNS E MUITO SUCESSO NO PROJETO! adoro td que vcs escrevem... Gostei da música do final, boa letra.. Não conhecia. Beijos!

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